segunda-feira, 29 de março de 2010

Camiseta Copa 2010- Notícias

Por NYT
De Nelspruit, África do Sul Quando junho chegar, a Copa do Mundo de futebol ocorrerá na África do Sul.

Embora apenas quatro dos 64 jogos aconteçam aqui em Nelspruit, um estádio de 135 milhões de dólares foi construído para a ocasião.

As 18 torres de apoio da arena alcançam o céu, na forma de girafas laranjadas.

À noite, seus olhos piscam com luzinhas fascinantes.

As pessoas que moram perto do estádio, orgulhosas de receber o maior evento do futebol, também se perguntam: Como pode haver dinheiro para um estádio de 46 mil lugares enquanto muita gente ainda pega água em poças sujas e vive sem energia elétrica ou banheiros? A Copa de 2010 deveria mostrar o melhor da África do Sul: um país moderno e próspero, aberto ao comércio, turistas e ideais democráticos.

Esta é a primeira vez que o evento acontece na África.

O ex-presidente Thabo Mbeki sugeriu alegremente que a competição seria um marco para todo o continente, "enviando ondas de confiança da Cidade do Cabo até o Cairo".

Esses alardes podem muito bem se mostrar verdadeiros, já que a África do Sul gastou mais de 6 bilhões de dólares em estádios, rodovias, aeroportos e outros projetos.

Mas Nelspruit, em preparação para suas seis horas de futebol, é, em vez disso, um exemplo do pior da África do Sul, com uma desigualdade dolorosa - medida por alguns economistas como a pior do mundo -, uma epidemia de corrupção local que muitas vezes leva os oprimidos à revolta e a indignação.

Simon Magagula mora numa casa de barro aonde se chega por uma rua suja, cujos buracos se aprofundam a cada chuva.

Sua casa fica bem perto do novo estádio.

"Os que se beneficiam com isso são os ricos, que já têm muito", disse ele, não rancoroso, mas cansado.

De fato, com o projeto do estádio veio uma injeção de dinheiro, embriagante para os corruptos que se reúnem no encontro entre dinheiro e poder.

"Não tem sentido tentar esconder isso.

Houve um colapso total de boa governança, principalmente ao redor da Copa do Mundo", disse Lassy Chiwayo, prefeito de Nelspruit, estabelecido como governante emergencial no final de 2008, quando seu antecessor foi removido do cargo.
 
Investigadores independentes do assunto descobriram que milhões de dólares foram mal gastos em contratos.

Seu relatório final pede acusações criminais contra o ex-administrador municipal e os diretores de três empresas que gerenciam o projeto do estádio.

A área de Nelspruit, com população de 600 mil habitantes, tem presenciado uma longa contenda entre membros rivais do partido governista da África do Sul, o Congresso Nacional Africano.

Os antagonistas querem mais apadrinhamento e outros favores políticos.

Assassinatos parecem estar sendo usados como tática.

Recentemente, em um mês três supostas listas foram parar nos jornais sul-africanos.

Uma incluía pessoas a serem mortas a tiros, outra listava pessoas que deveriam ser envenenadas.

O Sunday Times recentemente citou um assassino moçambicano arrependido, que afirmou ter sido contratado por políticos e empresários do mais alto nível hierárquico para matar seus adversários, descrevendo sua profissão como o trabalho de um "faxineiro".

Chiwayo aparece nas duas listas.

Embora ele tenha dito não ter certeza se essas ameaças eram autênticas, ele observou que várias pessoas listadas tinham morrido de forma suspeita.

"Temo que a ambição cega tenha tomado as almas do CNA", disse ele, referindo-se a seu próprio partido.

Em janeiro de 2009, o porta-voz da assembleia municipal, Jimmy Mohlala, foi baleado na frente de casa.

Ele tinha coletado evidências sobre acordos envolvendo o estádio e declarado que estava pronto para dar nome aos bois e apontar os culpados.

No último mês de janeiro, outro homem das listas, Sammy Mpatlanyane, vice-diretor da Secretaria Provincial de Cultura, Esportes e Recreação, foi baleado em sua cama.

Ele era "um decisor com bastante influência", disse o prefeito.

Quando se trata da Copa do Mundo, Nelspruit, conhecida como a porta de entrada para o Parque Nacional Kruger, parece sempre mostrar seu pior lado.

A própria aquisição do local do estádio foi nefasta.

O município convenceu os administradores de uma grande extensão de terras ancestrais a vender 70 hectares por 1 rand, ou 13 centavos de dólar.

As pessoas que deveriam se beneficiar com as terras se opuseram, e um juiz cancelou o acordo, comparando-o a quando poderes coloniais roubaram os ingênuos em troca de "botões e espelhos brilhantes".

O preço acabou ficando em cerca de 1 milhão de dólares.

"Só houve duplicidade, fraudes, enganações", disse Richard Spoor, advogado que administrou o caso.

"O que acontecerá depois que a Copa terminar? Não há time de futebol para ocupar o estádio.

Será um elefante branco.

Os políticos irão usá-lo para fazer discursos".

Duas escolas - a John Mdluli Primary School e a Cyril Clark High School - estavam localizadas nas terras adquiridas.

Elas foram demolidas em 2007 e os alunos foram transferidos para salas de aula pré-fabricadas, quentes e sem ventilação.

Pais e alunos realizaram vários protestos.

Eles bloquearam ruas, queimaram pneus e até tocaram fogo num carro policia.

A polícia os dispersou com balas de borracha.

Este ano, uma construção começou a substituir as escolas demolidas.

"O problema da escola nos deixou furiosos - isso e a necessidade de empregos", disse Magagula, que mora perto da nova arena.

"Algumas pessoas foram contratadas para trabalhar no estádio, mas não o suficiente.

Nos prometeram uma vida melhor, mas agora veja como vivemos.

Quando colocamos água no copo, dá para ver coisas se mexendo dentro".

Mesmo assim, Magagula adora futebol, que é o esporte preferido de sul-africanos negros.

Ele mal pode esperar para o início da Copa.

Magagula só conseguiu comprar um ingresso para um jogo, uma cadeira que tinha o preço especial de 18 dólares para os moradores do país.

Nelspruit é uma das cinco cidades que receberão novos estádios, incluindo algumas arenas espetaculares.

A cidade irá sediar as seguintes partidas: Honduras x Chile; Itália x Nova Zelândia; Austrália x Sérvia; Coreia do Norte x Costa do Marfim.

"Torço pelos italianos", disse Magagula, orgulhos.

"Não ligo para quem vai ganhar.

Independente do que acontecer, nunca vou esquecer".

Sydney Masinga contribuiu com a reportagem de Nelspruit.

Fonte: New York Times News, Tradução: Gabriela d'Ávila



 
Acesse http://www.camisetasdahora.com/

Nenhum comentário:

Postar um comentário